terça-feira, 18 de setembro de 2012

Despesas do Estado

É muito comum ouvirmos na televisão e nos jornais que se devia cortar na despesa pública. Mas depois nunca se chega a enumerar concretamente as áreas em que se pode aplicar.

Olhando para o orçamento de estado de 2012, percebe-se, em linhas gerais, onde é que o dinheiro está a ser gasto (página 78). Concluo algumas coisas disto:

  • Gasta-se demasiado dinheiro com a Assembleia da República (83,5 milhões euros), mesmo não sabendo ao certo o que aqui está englobado.
  • Paga-se uma estupidez de juros e dívida pública (8 mil milhões de euros). Para terem uma noção de grandeza, o não pagamento desta despesa significava passarmos de um défice orçamental para um superavit.
  • Gastam-se 429 milhões de euros na Defesa Nacional. Não estamos em condições financeiras nem militares de travar uma guerra, por que raio se gasta tanto em inutilidades? E ainda para mais porque o Ser Humano é o animal mais selvagem deste planeta e a qualquer momento desata a matar milhões de pessoas porque sim.
  • Gastam-se 7,5 mil milhões de euros em saúde. Esta é provavelmente das áreas onde mais desperdício há e por isso vale a pena apontar algumas falhas:
    • Até há pouco tempo os hospitais negociavam cada um por si o preço dos medicamentos com os fornecedores. Ninguém conseguiu pensar que se negociassem para um conjunto vasto de hospitais o preço diminuiria significativamente.
    • Há médicos pagos a preço de ouro que não cumprem integralmente o seu horário e ainda aproveitam para ir fazer umas horas para uma empresa privada.
    • Não há praticamente controlo da medicação gasta nos hospitais. Vai-se dando aos doentes, vai-se deitando fora porque passou de validade, alguns funcionários levam medicamentos para casa e por aí fora...
  • Anda-se a cortar na Educação, quando é esta que nos pode safar como país a longo prazo.
  • Gastaram-se mais de 40 milhões de euros no Censos 2011. Não há maneiras menos custosas de obter esta informação?
  • Na página 122 está um gráfico com o dinheiro que se prevê gastar em parcerias público-privadas: em média pagar-se-á um subsídio de natal de toda a função pública aos privados por ano até 2040.

Há muito por onde cortar, mas ninguém quer tocar em interesses instalados. Ainda hoje ouvi na rádio uma excelente observação: 
  • quer-se cortar nas parcerias público-privadas, os privados queixam-se e o Governo não corta
  • quer-se diminuir os privilégios dos médicos, a Ordem reclama e o Governo tem de ceder
  • quer-se aumentar o número de alunos por turma em 4 ou 5, os sindicatos dos professores levantam cabelo e o Governo não aumenta tanto
  • quer-se nivelar os salários dos gestores públicos com o do 1º ministro, mas depois dão-se excepções por razões de concorrência
Resumindo, toda a gente diz que de facto temos de fazer sacrifícios para sairmos da situação em que estamos, mas quando chega a hora de o fazer ninguém aceita. O papel do Governo é fazer o que deve fazer: distribuir proporcionalmente e sem excepção os sacrifícios por todos os 10 milhões de portugueses.

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