sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Fui roubado...

Há cerca de uma hora atrás aconteceu-me um evento que eu pensava ser impossível: fui roubado através da visualização de um canal de televisão!

Com efeito, o discurso de Passos Coelho superou todas as minhas expectativas, o que comprova que a raça dos políticos tem evoluído ao longo dos tempos. Começou com um discurso maçudo e carregado de bullshit, a elogiar a paciência do povo português (que é nenhuma) e como nos tínhamos de esforçar para resolver os "nossos" problemas (não me lembro de ter criado algum).



Várias conclusões espectaculares se podem retirar das palavras de Passos Coelho e que deverão sobretudo ser ensinadas às crianças portuguesas, no sentido de não chegarem àquele estado mental. Pois não é que ele se conseguiu contradizer pelo menos 3 vezes.


  1. Elogiou a decisão do BCE sobre a compra de dívida dos países em dificuldades, quando no final de Junho deste ano afirmou em pleno parlamento que não apoiava esta medida. Quis seguir a opinião da Sra Merkel, não vá ela atiçar um rottweiler de seguida.
  2. Afirmou que a equidade significa nivelar por cima e não por baixo, para logo a seguir anunciar que também o sector privado leva um soco no bucho. Então o que é isto senão nivelar por baixo?
  3. "Rejeitámos um aumento de impostos". Tecnicamente a subida da Segurança Social até pode nem ser um imposto, mas que esta frase cai muito mal lá isso cai.


Mais uma vez Passos Coelho conseguiu atingir exactamente os que costumam arcar com as despesas. Quando se trata de aplicar medidas aos trabalhadores surge com números exactos, precisos e irreversivelmente decididos. Quando fala sobre os grandes grupos económicos não soube precisar número nenhum, caso contrário os portugueses ainda lho podiam cobrar.

  • "Redução das rendas excessivas". Mas quanto, meu palerma?
  • "Redução do número de fundações". Desta vez até disse a palavra "número, só faltando mesmo dizer qual era.

Não só não soube quantificar quantos é que vai cortar das PPPs, das Fundações e da electricidade como ainda lhes garantiu menos despesa com os trabalhadores com a descida da TSU. Não falou em qualquer taxação das grandes fortunas, nem qualquer agravamento dos impostos sobre o capital. Em Portugal só dá para ser uma de duas coisas:

  • Pobre - recebendo subsídios durante a vida toda, mas pouco dignificante.
  • Rico - recebendo rendas ou diminuindo os custos do trabalho.
Passos Coelho chega a dizer que cabe às empresas reflectir estas medidas na vida das pessoas. Mas alguém acredita que uma empresa vai agora contratar às paletes? As empresas não estão a contratar por falta de dinheiro, mas sim por falta de clientes. Ou que, por gastar menos dinheiro, vai praticar preços mais competitivos nos seus produtos? Claramente não conhece a grande maioria das empresas portuguesas.

Consegue também dizer que a redução dos custos do trabalho é para o nosso bem. Para que as nossas empresas sejam mais competitivas em relação ao estrangeiro. Se a competitividade se ganhasse apenas com a redução dos salários nós já seríamos um dos países mais produtivos da Europa. Este idealismo não leva o país no bom caminho e só temos a perder com estes políticos.


Tudo isto é revoltante, mas ainda nem foi apresentado o orçamento de estado para 2013. Dia 15 de Outubro vamos ficar a conhecer mais uma quantidade engraçada de medidas, entre as quais se deverá destacar a redução do número de escalões do IRS, na qual o Estado não vai ficar a perder - aliás, nunca fica.

O que me assusta é que o Estado está a ficar um gatuno mais esperto. Até agora era aumentar o IVA à parva para arrecadar mais receita. No entanto, não pensaram que sendo um imposto sobre o consumo, as pessoas podiam começar a consumir menos ou até não declarar as suas despesas. Desta vez foram cortar onde não é mesmo possível fugir e que são os salários.

Parece-me que este governo vai ficar para a história como o que mais medidas impopulares tomou. Quer-me parecer que daqui por ano estaremos a ter a mesma conversa sobre as novas medidas de austeridade. Este ciclo vicioso muito dificilmente acabará e estes tubarões só estão a aproveitar a onda para escravizar ainda mais o povo. Curiosamente nada se falou sobre o programa da Troika ter sido um falhanço, portanto eles acham que a ideologia deles continua a funcionar.

A única coisa com que me posso contentar é que em 2015 vai ser um ano bom para toda a gente. Não sei porquê, mas em ano de eleições as contas públicas têm sempre uma margem para aumentos salariais e diminuição de impostos. Espero que nessa altura toda a gente se lembre desta raça de políticos (e das outras também) e vá votar em branco. Prefiro colocar pessoas novas no poleiro, do que estes meninos que desde cedo vão para as Juventudes Partidárias para lá poder chegar.

Sem comentários:

Enviar um comentário